A casa do Willian Santiago
O designer gráfico e ilustrador Willian Santiago mostra, pelo seu próprio olhar, o seu apartamento colorido, onde cria desenhos que já o levaram a muitos lugares
Por Layse Barnabé de Moraes
Fotos Willian Santiago
Willian Santiago nasceu na pequena Cornélio Procópio, no interior do Paraná, mas se mudou para Londrina, no mesmo estado, aos 12 anos. A infância foi no interiorzão, com contato com a rua e a vivência de sítio, mas as preocupações de adulto vieram cedo: aos 15 anos, Will começou a trabalhar – dos 16 aos 19, por exemplo, ele trabalhou numa barraca de sucos no calçadão do centro da cidade. “Eu trabalhava e tomava suco o dia inteiro e estudava à noite. Daí começou a ficar chato e arrumei uma vaga numa construtora, de office boy, então trabalhava lá de manhã, à tarde numa loja de instrumentos de música no centro, à noite estudava e ainda fazia freela na barraca de sucos aos domingos”.
O contato com o mundo da arte, no entanto, sempre rondou os seus dias: “Eu sempre tive contato com arte. O meu tio Jessé é formado na primeira turma de Artes da UEL (Universidade Estadual de Londrina). Meu avô é alfaiate. Minha mãe desenha para caramba, foi professora de primário. Então eu sabia que trabalhar com arte era possível, sempre tive contato com desenho e sempre tive muito apoio em casa. Tio Jessé sempre trazia aquarelas para a gente… minha mãe não podia pagar colégio particular, mas dizia ‘todo material que você quiser, você vai ter’, então eu tinha uns caderninhos bafos”, conta ele, que mais tarde fez Design Gráfico na UEL.
Entre idas e vindas no curso, teve contato com branding de moda e clientes grandes em uma agência de comunicação na qual trabalhou. A agência faliu e Will fez do seu seguro desemprego uma oportunidade de ficar em casa e desenhar, sempre divulgando o que produzia no Instagram e no Behance: “Eu sempre desenhei. É o que eu gosto de fazer, e nesse meio tempo foram aparecendo alguns trabalhos de revista. Eu fiz um, depois fiz outro… Eu ia nas livrarias de final de semana, fazia uma pilha de livros que eu achava bonitos, tirava fotos das capas, depois chegava em casa e caçava de onde era a editora e mandava meu portfólio. Eu mandava para 20 de uma vez. As pessoas precisam saber que você existe e saber que você está disposto e fazer alguma coisa. Nessa época, eu vi que poderia ganhar o mesmo que o meu salário trabalhando menos e fazendo o que eu gostava”.
Tudo isso rolou lá da zona norte de Londrina, na casa dos pais do Will, até que ele percebeu que precisava de um lugar só dele… ou melhor, dele e de seu companheiro. “Como começou a aparecer muita coisa, eu vi que chegou uma hora que não dava mais para ficar na casa dos meus pais, porque eu trabalhava do meu quarto”. De lá para cá, além do apartamento colorido que vai ganhando contornos e toques com o passar dos dias, Will foi levado a muitos lugares pelos seus desenhos: “Em dois anos, aconteceram muitas coisas. Eu estou super feliz. Já é um privilégio trabalhar no que se gosta, já é outro privilégio trabalhar em casa e conseguir fazer o seu horário. Então eu quis me jogar nisso”, conta Will, que fez, entre muitas outras coisas, a campanha do Dia das Mães 2018 da Natura, estampas para a Farm, trabalhos publicitários para Nestlé e Havaianas e ilustrou até mesmo o primeiro livro infantil do Luís Fernando Veríssimo, O sétimo gato, com o qual ganhou, em 2017, o Prêmio Jabuti na categoria Infantil Digital.
Sabe quando você entra num lugar e pensa “tem que ser aqui”?
Willian namora Juliano há sete anos e foi aí que eles resolveram, há pouco mais de um ano, morar juntos num apartamento da década de 1970 na região central de Londrina. “Sabe quando você entra num lugar e pensa ‘tem que ser aqui’? Eu não quis nem procurar outro. Acho que tem cara de lar”. Quando eles alugaram o apartamento, não tinham nada: chegaram lá com colchão de ar, a mãe de um deles deu o fogão, a de outro deu a geladeira… “Primeiro pegamos as coisas essenciais e depois deixamos as coisas com a nossa carinha. Isso de arrumar a casa é com o tempo.”