Sabe do que eu mais sinto saudade da infância? Daquela imaginação infinita e ilimitada que toda criança tem. Para ela, qualquer lata vazia vira um tambor, palitos alinhados viram um exército inteiro, um pano de prato, o véu da princesa e um giz no chão logo se transformava numa amarelinha ou num grande sol, num pedido desesperado para a chuva dar uma trégua e deixá-la finalmente sair pra brincar lá fora.
Aliás, BRINCAR… Em que momento da vida a gente fechou o olho, abriu de novo e parou de brincar? Você se lembra? Eu não… Quando foi que essa imaginação fértil que nos permitia o “fazer de conta” cedeu lugar às preocupações? Quando essa criatividade toda foi suprimida pela insegurança, incerteza, pelo tal do medo de errar? Acontece, literalmente, num piscar de olhos, né? Quando a gente percebe, a gente já passou a levar a nossa vida tão à sério… E a nossa casa, como parte fundamental da nossa vida, acaba absorvendo essa seriedade por consequência. Desde quando a gente precisa levar a nossa casa tão à sério?
Quer um exemplo? Fico pensando naquelas pessoas que têm medo de pintar a própria parede de casa. Acho até graça! Tudo bem, você pintou sua parede e não deu certo. E agora? Ficou manchada? Ficou esquisita? Mas ficou da cor que você queria? Então, na minha opinião, já valeu à pena! Você parou de brincar no momento em que você passou a preferir a sua parede na cor gelo do que na sua cor favorita, por medo de errar.
E o que me enche de orgulho ao receber amigos aqui em casa é que eles saem daqui com um pouquinho mais de vontade de brincar na casa deles. Por que aqui, a casa não é só de colorir, mas também é de brincar. E tem coisa mais prazerosamente engraçada do que ver um adulto brincando? Espia só o último jantar que teve aqui em casa: coloquei todo mundo para testar meu novo projetinho. 🙂
E a minha vontade não é que você jogue um balde de tinta na parede, faça uma cagada e ache uma beleza não! Acho que cada um tem um limite. Mas qual é o seu? Tem gente que nem o seu limite sabe. Para quem gostou da parede pintada com lousa escolar, queria uma igual, mas acha que esse projeto está no nível 9.8 na sua escala de ousadia, ao invés de desistir, por quê não adaptar a idéia à sua escala?
Aproveita que o Natal acabou de passar e você deve estar cheio de caixa de presente por aí. Você vai precisar, principalmente, de:
Estilete + Tinta de lousa + cola |
Pintar cada uma com 2 camadas de tinta |
Algumas caixas |
Eu deixei secar cada mão de tinta por 6 horas. E, depois de secas, as caixas viraram telas para escrever o que você quiser com giz. Para reforçar ainda mais o nível 2 de ousadia, elas foram presas com fita dupla face na parede. Como são leves, não precisam de prego, nem furos, nem esses “pavores” que te fazem desistir de um projeto como esse. 🙂
O que escrever nas telas? O que a sua imaginação mandar! Na falta de inspiração, sempre existirá a Bossa Nova…
“Eis aqui este sambinha feito numa nota só.
Outras notas vão entrar, mas a base é uma só.
Esta outra é conseqüência do que acabo de dizer.
Como eu sou a conseqüência inevitável de você.
Quanta gente existe por aí que fala tanto e não diz nada,
Ou quase nada.
Já me utilizei de toda a escala e no final não sobrou nada,
Não deu em nada.
E voltei pra minha nota como eu volto pra você.
Vou contar com uma nota como eu gosto de você.
E quem quer todas as notas: ré, mi, fá, sol, lá, si, dó.
Fica sempre sem nenhuma, fique numa nota só.”
Outras notas vão entrar, mas a base é uma só.
Esta outra é conseqüência do que acabo de dizer.
Como eu sou a conseqüência inevitável de você.
Quanta gente existe por aí que fala tanto e não diz nada,
Ou quase nada.
Já me utilizei de toda a escala e no final não sobrou nada,
Não deu em nada.
E voltei pra minha nota como eu volto pra você.
Vou contar com uma nota como eu gosto de você.
E quem quer todas as notas: ré, mi, fá, sol, lá, si, dó.
Fica sempre sem nenhuma, fique numa nota só.”
Samba de uma nota só
Tom Jobim