Logo depois do Natal, um senhorzinho chinês lá do Saara me ofereceu um pisca-pisca quase que de graça. “Custava tleze leais. Pla mocinha, R$2,50” – disse ele, tentado se livrar do estoque. Foi tudo muito rápido. Quando dei por mim, já estava com o pisca dentro da sacola e três lojas mais à frente, procurando idéias para enfeitá-lo. Voltei pra casa com as minhas esferas de palha pra fazer um pisca para a cozinha, lembra desse?
O processo de produção durou aproximadamente 2 horas. E foram 2 horas de uma intensa alegria e sensação de bem estar. Uma semana depois, comecei a sentir falta daquela sensação de euforia que só se sente quando você está montando seu próprio pisca, sabe? Não pensei duas vezes e voltei lá no senhor chinês:
– Oi. Mê vê mais 3 piscas, por favor?
– Pisca? Não tenho mais.
– Ahn? Como assim? Acabou?
– Sim, agola só no plóximo Natal.
Vaguei pelo Saara, ainda desnorteada, à procura de alguém que pudesse me vender um pisca. Entrava de loja em loja perguntando e a resposta era a mesma: só no Natal. Quando estava quase desistindo, o destino colocou na minha frente uma loja com uns piscas muito mal acabados e à venda por R$6. Fazer o quê, né? Quando você precisa, você paga o preço que for! Levei 4 pra casa.
Depois que você experimenta a sensação de fazer o seu pisca decorado, tudo à sua volta passa a ser um objeto em potencial para ser encaixado no dito cujo. Florzinha, bolinhas de palha, enfeites de cabelo… eu olho para umas tranqueiras e fico pensando: “hum, será que encaixa?”. Até brinde de Kinder Ovo já foi cogitado.
Quando dei por mim, já estava fazendo piscas para dar de presente para amigos, só pela sensação, sabe? E ai de quem questionasse sobre o meu vício. Vício?! Que vício? Isso é artesanato! É arte! É criatividade sendo colocada em prática! E tem mais: eu paro quando quiser. Eu hein… vício… me passa um pisca, vai!
Os parentes tentaram fazer uma intervenção. O namorado deu uma idéia pra uma mesinha, a mãe deixou um saco de retalhos na porta da minha casa, a tia deu argila, miçangas e tinta. Tudo para que eu desviasse a atenção das luzinhas. E não é que funcionou? O blog seguiu em frente, com outas idéias e outros projetos. O apoio da família é importante nessas horas, né?
Eu já tinha prometido que não faria mais nenhum pisca. Estava há 62 dias sem encostar em um, vivendo um dia de cada vez. Mas aí eu me deparo com um cacho de uvas de mentira. E se você arrancar a uva do cacho, o que sobra? Essas bolinhas verdes quase transparentes aí de baixo, que já vêm com um furinho para encaixar sabe aonde? Pois é.