Vamos começar pelo começo, até para que você entenda toda a polêmica e, o mais importante, o real objetivo desse… digamos… textão.
Lá no comecinho do ano, a Casa Vogue publicou um vídeo onde a atriz Bruna Linzmeyer abria as portas da sua casa nova. E não tem porque eu continuar antes que você assista ao vídeo e veja as fotos da matéria. Essa etapa é importante, vai lá que eu tô aqui pra gente seguir a prosa. 🙂
Paredes sem revestimento, manchas, buraco na parede, imperfeições, um balanço no meio da sala, uma poltrona rasgada, um sofá desgastado… o que me chamou a atenção na primeira vez em que assisti ao vídeo foi a paixão da Bruna pelas sutilezas e significado que ela atribuía a cada canto, a cada memória. Uma moradora, sem sombra de dúvida, de uma sensibilidade extrema e uma casa singular, poética, que se fundia com a personalidade dela em vários momentos do vídeo. Muitas imagens, por si só, como o buraco na parede e as manchas dos quadros não faziam muito sentido pra mim, até que a Bruna aparecia para explicar o motivo deles estarem ali e isso fazia total sentido… pra ela. Pronto.
Um detalhe que me cativou logo no começo do vídeo: essa é sua primeira casa. E eu não pude deixar de me lembrar da minha primeira casinha, a primeira Casa de Colorir, que era um laboratório de experimentações, de realizações de desejos, de liberdade! E eu senti muito na Bruna também essa falta de pudor, de critério, essa necessidade de se libertar e de fincar a sua bandeira no seu reino, só seu.
Se você for analisar o meu texto até aqui, vai perceber que eu não usei nenhum adjetivo com base na minha opinião pessoal para descrever sua casa. “Feia, bonita, cafona, chique”… é claro que eu tenho a minha opinião, mas esse não é o foco desse bate papo. Aqui, não quero propor uma reflexão sobre o gosto de cada um, mas sim, sobre o OLHAR de cada um. E são coisas bem diferentes.
Quando terminei de assistir ao vídeo, desci a página e fui parar nos comentários. Sim, sou daquelas bravas guerreiras que ainda têm coragem de ler os comentários da globo.com, pois acredito que eles são um grande termômetro da relação do brasileiro com a internet. Sempre me arrependo e dessa vez não foi diferente:
Como sempre acontece, saio do computador meio atordoada, tentando digerir a falta de empatia desses comentários tão impessoais, mas ao mesmo tempo tão ásperos. Só que, dessa vez, essa minha reflexão tinha um gosto diferente, mais amargo, pois tocava muito na questão de como as pessoas enxergam as suas casas, as casas dos outros, e como esse escudo do “essa é a minha opinião” abafa uma questão mais sutil e delicada: a do olhar. Um olhar mais generoso sobre o local onde moramos e onde os outros moram. E esse ponto o Casa de Colorir sempre se propôs a discutir.
Ser anônimo é uma benção, mas ao mesmo tempo um perigo na internet. Eu fico com muita vontade de responder essas indelicadezas uma a uma mas, como sou uma “pessoa pública”, tenho que fazer a fina. Por outro lado, ser anônimo acaba com essa finesse né? A capa da invisibilidade é uma proteção, mas também uma arma. E ela fere. O meu prêmio de consolação é ficar respondendo mentalmente essas pessoas. A primeira respostinha desaforada que me veio à cabeça foi: “Ahhhh, sua casa deve ser lindona, chique, de revista pra você estar falando isso, né?”. Então, num segundo momento, caio em mim e a constatação não é feliz: pelo contrário… essas pessoas que (ainda) não têm um olhar mais sensível e generoso sobre o que é decorar a própria casa provavelmente não estão felizes com a sua. Não conseguem enxergar a beleza do imperfeito, do inacabado, do em construção. Essas pessoas não conseguem olhar com sutileza para uma casa singular, mas que é a cara da dona pois… não sabem. Apenas não sabem. E não fazem. Nem a própria casa, muito menos a casa dos outros. Como ser feliz com um olhar tão duro, me diz? Sobra opinião e falta intuição.
Desde que o Casa de Colorir surgiu, sempre tive um certo bloqueio de chamar esse espaço de um “blog de decoração” pois, junto com o termo, vinha uma série de estilos, técnicas e regras as quais eu não estava disposta a seguir, muito menos compartilhar. Esse sempre foi um blog de morar. Eu nunca quis ensinar ninguém a decorar a própria casa, não sou decoradora e, aceitem, provavelmente nunca serei. Eu sou jornalista e, acima de tudo, moradora, como você. O que eu tenho tesão, mas tesão mesmo, é constatar que um texto meu teve a capacidade de acender uma faíscazinha aí dentro, de fazer você tirar os olhos da tela e enxergar a própria casa com um olhar mais afetuoso, menos crítico, mais livre! Gente, o mundo tá tão doido, mas tão doido, que a nossa casa é, cada vez mais, o nosso refúgio, o nosso reino! Se a gente não tiver liberdade de sermos nós mesmos pelo menos nesse espaço, nossa, que triste viver!
E depois de digerir ~ parcialmente ~ esses comentários, resolvi publicar essa repercussão na página do Facebook aqui do blog e convidar os leitores para se juntarem a essa reflexão. Pra minha felicidade, esses são os comentários de quem segue o Casa de Colorir e que já está no caminho dessa mudança de olhar:
Relativização, afeto, empatia. <3 Somos uma rede, somos muitos, e estamos juntos.
Esse não é um texto sobre pessoas boas e pessoas ruins, sobre o bem e o mal. Esse é um texto sobre o propósito do blog e como podemos desenvolver um olhar mais sensível sobre a forma como moramos e nos expressamos nessa nossa casa. Quantas pessoas que seguem o blog chegaram aqui “de mal” com a própria casa? Com vontade de jogar tudo fora e comprar tudo novo? Pois é. Com afeto e paciência a gente vai se dando a chance de amolecer esse olhar, trazer mais significado e menos regras e fazer as pazes com o espaço onde a gente mora. A Bruna parece tão feliz, dá tanto gosto em ver o seu orgulho em abrir as portas da sua casa pra tanta gente que ela nem conhece. Não quebra essa energia não, não seja essa pessoa. <3
Esse texto é um agradecimento aos leitores do Casa de Colorir. Empatia decorativa, nós praticamos.
PS: Fiquei pensando se eu deveria ocultar o nome das pessoas que comentaram, para preservá-las. Decidi não ocultar, pois acredito que as pessoas devem se responsabilizar pelo o que dizem, na vida real e na virtual e os comentários não estão fora de contexto. Beijos de luz.