Casa
por Layse Barnabé de Moraes*
Há exatos 90 dias
moro em um outro lugar
um lugar longe das trompas
onde sempre me escondi
com medo de ter coragem
Não escrevi sequer uma vez sobre a mudança
Porque foram dias de pó, de louça,
de cadeiras que não são bem minhas
Prometi que escreveria um livro
que leria muito
que criaria um índice onomástico da confusão
dos últimos anos
Escrevi também no Post-it amarelo
que ser o que se pode é a felicidade
Lembrete que segui à risca
aceitando a sina que me cabe
Troquei o verso livre pelo silêncio
o sexo pela solidão
o drama pelo sol das seis da tarde
Às vezes é preciso sair um pouco
para entender o reflexo que traduz o tempo
Aquele mesmo que não deixa mentir
que não há noite atravessada que não guarde em si
a travessia
Que não há lugar
em que eu vá
que não seja meu
Então durmo comigo
e sei que não estou sozinha.